Vento

Tem dias que o vento está mais malicioso e insinuante que o de costume, passa pelas pernas da moça, balança o vestido, finge que vai levantá-lo só para que os expectadores de tal ensaio fiquem na expectativa de ver qualquer coisa que seja, uma cor, uma renda ou uma curva mais sinuosa. O trabalho que a moça teima em ter para impedir tal malabarismo por vezes é em vão. Ele é rápido, faceiro e acha brechas onde menos se espera.

Existem alguns tipos de ventos, aquele que só refresca as pernas, passa e balança o vestido pra lá e pra cá. Aquele que engana; você jura que não vai acontecer nada e de repente ele dá um rodopio e levanta, um pouco que seja, a barra e mostra o que antes estava coberto. Tem ainda aquele que mostra ao que veio, é embaraçoso, inquieto e persistente, levanta o vestido, assanha os cabelos, ruboriza a moça e atiça os expectadores que, por vezes, ousam falar: “Segura a saia que esse vento é macho!”